quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Tornar-me-ei pano de chão

Por Viveca Santana

Coisa bonita o dom da embromação, do logro, do viés.
Sempre penso nisso quando vejo algumas coisas na tv que me indignam.
Como alguém consegue criar um desejo em alguém ou fazer alguém acreditar em algo que simplesmente se tornaria uma piada, se fosse inventada por qualquer um e contada numa mesa de bar.
Pensei em não comentar, simplesmente pelo fato de naturalmente ser agressiva nas minhas opiniões pessoais e porque acreditei que haveria um lapso, um rompante de coerência da parte de alguém, algum engravatado (o cara que decide) que talvez voltaria atrás.
Ele acordaria de manhã, com seu roupão de seda e lendo o jornal matinal, perceberia a idiotice que é o tal conceito de mistura nonsense do Festival de Verão.
A idéia é louvável, mas não sei, sempre me remete uma cena do Rock in Rio, Carlinhos Brown ótimo, cheio de boas intenções recebendo latadas grotescas de fãs do metal.
Sim, essas coisas não acontecem na Bahia, somos seres tolerantes, simpáticos no geral. A mensagem seria perfeita para uma cena de Nobel da Paz, se houvesse uma medida de tino musical.
Quase desenvolvo um ataque epiléptico ao ver Alanis Morissette, ícone pop de uns anos atrás, de musicalidade bem diferente das opções do dia, antecipando um show de Psirico.
Leia-se: não há nada de preconceituoso aqui, venham os algozes (me transformem num pano de chão se quiserem), amantes das rimas ricas do pagode, respeito a inclinação, admitindo não ouvir/gostar/admirar. Porém, aceitar uma falta de coerência musical e culpar a pobre mistura?
Públicos diferentes, vá lá, que se goste dos dois, isso é viável diante de tantas coisas estranhas e folclóricas que se vê aqui na Bahia (e se torna até agradável, bonito, pitoresco e é a cor e a graça do baiano).
A questão é: desde quando mistura é cegueira? Dá pra misturar sem atestar o desinteresse musical, não dá não?
De boas intenções o inferno está cheio.

Pobre moça educada: http://br.youtube.com/watch?v=b1WJlxjxAZE

11 comentários:

Laert disse...

Veca, infelizmente nao da pra comentar isso. Eu so lamento a situacao ter chegado nesse ponto.

Eder Galindo disse...

veca,

vou responder com calma amanhã, mas concordo contigo. pode ficar tranquila. hehehe

beijo!

p. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

A linha tênue entre o falso ecletismo e o ridículo?

Salve-se quem puder!

beijos

leite.manuela@gmail.com disse...

Isso nada mais é que o capitalismo se impondo sobre a sociedade apática. Eu não acho que o que foi feito com Carlinhos Brown foi correto, mas antes errados estavam os que organizaram a coisa. A verdade é que quem gosta de psirico e nem conhece Alanis, paga pra entrar e vice versa. Assim nosso queridos "feitores" lucram mais e todo mundo que paga 120 contos pra assistir 2 horas de show fica feliz mais uma vez.

p. disse...

é, vendo a programação aqui, realmente parece estranho.
e olha, nem sabia da alanis. grata surpresa.
o pior de tudo é que ela está entre victor & léo e psirico. :/

Samira Andari disse...

Tb não concordo com a mistura.... mas o objetivo / proposta do festival é essa. E se tiver alguém errado.... somos "nós" que ainda assim pagamos, e vamos lá.
Nós = povo.
Ano passado não fui, e esse ano provavelmente não irei....

Anônimo disse...

Bom desabafo. Acho que todos estão assustados com uma grade tão "eclética". Não é apenas Pisirico. É Olodum abrindo a noite, Victor e Leo antes e Pisirico depois. Só se vê na Bahia...

Anônimo disse...

realmente assustador!
Rafa Karosso

Christiana Fausto disse...

Vc tem autoridade pra falar. Eu, há séculos, passo ao largo de qualquer multidãozinha, imagine festival de verão. Bj! c.

Carol disse...

vivecaaaa muito bom! taisa me passou seu blog, adorei! bjos