quarta-feira, 1 de maio de 2013

"Ostra feliz não faz pérola."

Motivo pelo qual o blog está parado, por tempo indeterminado.
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domingo, 28 de abril de 2013

Algum tempo atrás, talvez uns dias, eu era uma moça caminhando por um mundo de cores, com formas claras e tangíveis. Tudo era misterioso e havia algo oculto; adivinhar-lhe a natureza era um jogo para mim. Se você soubesse como é terrível obter o conhecimento de repente - como um relâmpago iluminado a Terra! Agora, vivo num planeta dolorido, transparente como gelo. É como se houvesse aprendido tudo de uma vez, numa questão de segundos. Minhas amigas e colegas tornaram-se mulheres lentamente. Eu envelheci em instantes e agora tudo está embotado e plano. Sei que não há nada escondido; se houvesse, eu veria.

Frida Kahlo





quinta-feira, 11 de outubro de 2012

...mas sei-me indo e as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão, dizia a poesia e agora nada não, mais nada não.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Ouro de Tolo


Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros
Por mês...
Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso
Na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar
Um Corcel 73...
Eu devia estar alegre
E satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado
Fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa...
Ah!
Eu devia estar sorrindo
E orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa...
Eu devia estar contente
Por ter conseguido
Tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado...
Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto "e daí?"
Eu tenho uma porção
De coisas grandes prá conquistar
E eu não posso ficar aí parado...
Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter me concedido o domingo
Prá ir com a família
No Jardim Zoológico
Dar pipoca aos macacos...
Ah!
Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco, praia, carro
Jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco...
É você olhar no espelho
Se sentir
Um grandessíssimo idiota
Saber que é humano
Ridículo, limitado
Que só usa dez por cento
De sua cabeça animal...
E você ainda acredita
Que é um doutor
Padre ou policial
Que está contribuindo
Com sua parte
Para o nosso belo
Quadro social...
Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar...
Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador...
Ah!
Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar...
Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador...

(Raul Seixas)

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Depois dos 30, você percebe que existem coisas sem importância, esforços sem importância e que nunca poderá mudar a essência, a dureza, a ingratidão e as convicções alheias.
O ser humano vive e movimenta seus dias, suas buscas e suas benesses, fundamentada em si mesmo e no prazer que isso pode causar a seu ego, por mais vistosa que seja a sua pele de cordeiro.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Viver fora

Por Viveca Santana

Viver em outro país é como renascer. Um renascer a fórceps, brusco e violento.
É acordar em solo novo e ter que reaprender coisas dos tempos de criança - a falar, a conviver com as pessoas, perceber a quantidade de coisas novas que surgem a cada dia, e que te fazem enxergar a vida de uma outra maneira.
É se adaptar a um idioma novo, aos novos limites que não são os nossos, mas que temos que respeitar e assustam, diante das diferenças de tudo o que se aprendeu deste o colo da mãe.
É saber que seu coração é um navegante sem volta, mesmo que um dia você retorne.
Viver em outro país no início, é querer sair todos os dias com a câmera na mochila, fotografando as imagens que olhos não estavam acostumados a ver, andar desatento com a visão perdida no céu, viver deslumbrado com a imensidão do mundo, admirar-se e sempre comparar o que se tem de melhor e o que falta no nosso lar.
Viver fora é se aventurar, é se acostumar com a saudade e é ver as lágrimas dos primeiros dias de chegada, secarem. E isso é para poucos - é para quem quer ser levado pelo tempo, de carona. Pra quem tem coração valente.
É se fascinar a cada esquina, é querer experimentar, se adaptar, entender, envolver-se com uma nova história, com uma nova cultura, viver um recomeço. É ter coração livre, que nem de passarinho.
Viver fora, usando metáforas simples, é cair num buraco escuro, sem medo e sem saber o que tem lá no fundo.
É aterrissar em um universo paralelo onde costumes aceitáveis a nossa cultura, como tocar o corpo do outro (num ato de cumplicidade e de afeto) ou de ser aberto aos novos amigos, se tornam excessos dispensáveis em nossa nova casa. É perceber o quanto se pode mudar e isso não tem fim, basta querer.
É como despertar após uma cirurgia de miopia e voltar a ver o contorno das coisas, as cores, as formas, descobrir dimensões que antes estavam impedidas de enxergar, talvez por conta da rotina de casa, pela falta de sensibilidade que adoece a alma de quem não sai do ninho e teme em sair da sua rotina e mudar seu destino, entregando ele a sorte.
Viver longe é sentir a palavra saudade viva diariamente: saudade da comida de casa, do perfume da mãe, das manias do pai, do abraço dos amigos - dos amigos que a gente escolhe e que são propriedade do nosso coração aonde formos - e que nos acompanham no skype, no msn, no facebook, em cartas e postais, no nosso pensamento. É estar preocupado constantemente com os seus, que estão a um oceano de distância e ver que muitas situações especiais são assistidas de longe, mas com o mesmo afeto, curiosidade, amor e ternura.
É às vezes conviver com a solidão e não morrer por isso e sim se fortalecer.
É sentir falta de coisas simples, como o seu travesseiro, o seu cachorro te acordando cedinho, dormir no sofá da sala com a TV ligada na sessão da tarde, de ouvir seu idioma e seu sotaque, do pão com manteiga que só sua mãe faz, de poder ligar pra um amigo a hora que for.
Mas viver fora tem a alegria do crescimento, da renovação e do amadurecimento diário. É novamente despertar e ver o quanto você mudou, o quanto está melhor e ver que dentro de você tem uma paz infinita só sua e que seu ninho vai continuar do mesmo jeito que você deixou, com a mesma acolhida e calor.
E esse ninho agora tem franquia: está dentro de você.

Para ler ouvindo: Nantes, do Beirut.