sábado, 25 de setembro de 2010

Então deixa eu dormir

Por Viveca Santana

Na tentativa de viver intensamente, respirar como nunca respirou antes, apoiava as andanças distraídas de seus sonhos, não mais em caminhos através das nuvens, nem nos desejos que vão se perdendo aqui e ali e se conectam com as coisas pequenas do dia a dia, fortalecidos pelo poço fundo do cansaço.
Naquelas tentativas, começava um condicionamento seu, distante dos remédios escravizantes pra dormir e tornava o ato de deitar, cerrar os olhos, preparar o corpo pro sono, um universo só seu, cheio de coisas pra fazer, sem imposições e preconceitos.
O movimento por dentro das cobertas agora assemelhava-se a se acomodar próximo a uma janela e ir percorrendo um caminho novo, descer numa estação desconhecida, sem medo algum, sem ninguém para esperar e sem malas pra levar.
Agora queria sentir o cheiro que vinha da janela aberta, cheiro do vento que soprava em seus cabelos, gelava seu rosto contaminando o corpo todo, ensaiando os planos de recomeço e todos os seus medos.
Seriam pouco dias de sonhos, mas seriam só seus.