domingo, 17 de agosto de 2008

Desenredo. Pra Caymmi.

Por toda terra que passo me espanta tudo que vejo
A morte tece seu fio de vida feita ao avesso
O olhar que prende anda solto
O olhar que solta anda preso
Mas quando eu chego eu me enredo
Nas tranças do teu desejo
O mundo todo marcado à ferro, fogo e desprezo
A vida é o fio do tempo, a morte o fim do novelo
O olhar que assusta anda morto
O olhar que avisa anda aceso
Mas quando eu chego eu me perco
Nas tramas do teu segredo
Ê Minas, ê Minas, é hora de partir, eu vou
Vou-me embora pra bem longe
A cera da vela queimando, o homem fazendo seu preço
A morte que a vida anda armando, a vida que a morte anda tendo
O olhar mais fraco anda afoito
O olhar mais forte, indefeso
Mas quando eu chego eu me enrosco
Nas cordas do seu cabelo
Ê Minas, ê Minas, é hora de partir, eu vou
Vou-me embora pra bem longe...

Composição: Dori Caymmi / Paulo César Pinheiro

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Eleições, personagens e ilusões

O Homem Da Gravata Florida
Jorge Ben Jor

Lá vem o homem da gravata florida
Meu deus do céu... que gravata mais linda
Que gravata sensacional
Olha os detalhes da gravata...
Que combinação de côres
Que perfeição tropical
Olha que rosa lindo
Azul turquesa se desfolhando
Sob os singelos cravos
E as margaridas, margaridas
De amores com jasmim
Isso não é só uma gravata
Essa gravata é o relatório
De harmonia de coisas belas
É um jardim suspenso
Dependurado no pescoço
De um homem simpático e feliz
Feliz, feliz porque... com aquela gravata
Qualquer homem feio, qualquer homem feio
Vira príncipe, simpático, simpático, simpático
Porque... com aquela gravata
Ele é esperado e bem chegado
É adorado em qualquer lugar
Por onde ele passa nascem flores e amores
Com uma gravata florida singela
Como essa, linda de viver
Até eu, até eu, até eu, até eu, até eu,...

sábado, 9 de agosto de 2008

Mesmo

Por Viveca Santana

Ela viu um dos seus filmes preferidos.
A vida passava na frente dela com uma velocidade dolorosa. Dóia a música cantada no fim.
Neste mesmo dia, tinham sentado um ao lado do outro. Ele como sempre, não percebia a sua falta de leveza e tranqüilidade. Ela tirava os anéis dos dedos, nervosa por estar ali compartilhando aquele ar.
Era bonito de ver o jeito que ele segurava o cigarro entre os dedos e punha entre os lábios. Os lábios que ela desejava tanto nos sonhos, nas cartas, nestas linhas escritas.
Houve um momento em que ele olhou para ela – o mesmo olhar sem vida de sempre. Perguntou se ela concordava com algo que os outros da mesa conversavam.
Mas do que falavam? O ar continuava sim carregado, as pontas dos dedos cheios de sensações inúteis, o coração apressado em batidas fortes.
Ela não reparava em nada, prendia-se em si mesma, o tempo sem pressa, a atenção na respiração dele, que só ela conseguia ouvir.
Aquele cigarro poderia durar dias, aquelas cinzas podiam amontoar-se no chão. Ela adoraria, mesmo que fossem só as cinzas que permanecessem.


** Para ler ouvindo "Socorro", Arnaldo Antunes.

sábado, 2 de agosto de 2008

Plágio

"As nossas cidades ruins formam o nosso caráter, se adequam à nossa inadequação e se tornam a nossa peculiaridade. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Não sou daqui, mas é como se fosse.
Agora que surge a possibilidade real e incerta de finalmente sair, nem é ainda uma fotografia na parede, e já dói.
A minha cidade tem um nome feio, mais feio que o meu, não tem o charme de uma cidade pequena, nem é uma cidade grande, uma cidade no meio do caminho, como eu."