segunda-feira, 28 de maio de 2007

A mulher segundo Vinicius II

Vinicius de Moraes
Pasquim vol. 1


Dê a uma mulher um dedo, e ela quer a mão; a mão e ela quer o braço; o braço e ela quer o corpo; o corpo e ela quer a alma; a alma, e ela quer que comece tudo de novo.
Em estado de amor, sua insatisfação é permanente – e a própria plenitude do ato sexual
(que só é realmente pleno no amor) é apenas a pausa que a apazigua em seu constante e antropofágico trabalho de viúva-negra, sempre a tecer sua teia de artimanhas com que melhor aprisionar o homem, para depois, lentamente, devorá-lo. E essa é ser a mais bela e trágica missão na natureza. Aparentemente mais fraca que o homem em sua disponibilidade e paciência, a mulher é realmente a longo prazo, o ser mais forte, devido a esse constante tecer de fios com que envolve o ser amado até vê-lo totalmente prisioneiro – quando, então, pode dar largas ao seu canibalismo. E para esse efeito, dispõe da mais poderosa das armas, milhões de vezes mais poderosa que qualquer arma nuclear: o sexo.
No homem, o sexo é centrífugo e intermitente. Na mulher, é centrípeta e permanente. Existe nela como conteúdo e continente; enquanto que no homem o sexo é apenas continente. Na mulher, o sexo acorda com ela, espera com ela, trabalha com ela e dorme com ela.
Ela o transporta como um semovente à sua carga, e ele se denuncia ao menor dos seus gestos, pois está ali, no centro do seu ser, para amarrar o homem, para escravizá-lo e fazê-lo , em última instância, cumprir o seu terrível destino de ser devorado.
E o mais terrível de tudo é que, se não for assim, não é como deveria ser, não é como manda a natureza.
Não há escapatória : só esse tipo de relação possui a dimensão da eternidade.
O resto é compromisso, conivência, encontro de solidões, desconversa diante da vida, sexo amigável, medo de enfrentar a fera.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Autismos.

Por Viveca Santana


Escrevia como se gritasse consigo mesma
Rabiscava o papel rapidamente, ía e voltava em pensamentos, saturava.
Havia dias em que não conseguia emitir uma palavra dita, não ouvia nada que não interessasse
Afundava naquele mundo seu, mesmo que colorido, mas com cores que ela não conseguia tocar.
E rabiscava tudo, desenhava histórias confusas e rasgava de novo.
Era como se elas fugissem dela, não quisessem se sufocar nas mãos nervosas
Aqueles dias longos corriam, pareciam escadas íngremes, tontos, sem alguém para segurá-la e ampará-la no tempo.
Ela tinha medo dos escritos, tinha medo da escada, de abraços, fugia dos olhos dos outros, com medo de perceberem suas fraquezas
Queria parecer forte, e a força inventada nem sabia de onde surgia.
Era inventada.
Crítica.
Vinha um sobressalto e corria para os escritos como para uma jaula, como para uma caixa.
Queria se esconder ou que a esquecessem por uns dias.
Alguns poucos. Para sentir falta da atenção e buscar novamente a crise que parecia um vício
( o de matar suas histórias sem ninguém para impedí-la)
Percebia que seus ouvidos não sensibilizavam, gostava da solidão das letras, tornava-se desejada nas suas histórias.
Era o seu modo de viver sem sofrimento, como se a protegessem.
Do nada e do tudo.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Férias forçadas

Por Viveca Santana
Ando com um monte de listas ultimamente. Das músicas mais bonitas, da poesias guardadas e dos textos, que aos montes inflamam minha mente e não ressoam no papel.
A trilha para tudo isso tem sido algumas músicas do Beck, algumas do Keane, outras do Cake.
Boas dicas para que não conhece nenhum deles é começar a ouvir sem preconceito, já que são estilos bem diferentes (João Gilberto anda na roda também, com sua parcimônia de quem canta sussurando e sua antipatia adorável).
Das boas:
"Bad dream" - Keane
"Think i´m in love" - Beck
"Italian Leather Sofa" - Cake
"Ritinha" - João Gilberto