domingo, 15 de março de 2009

O dia que Júpiter encontrou Saturno

Caio Fernando Abreu
"Foi a primeira pessoa que viu quando entrou.
Tão bonito que ela baixou os olhos, sem querer querendo que ele também a tivesse visto. Deram-lhe um copo de plástico com vodka, gelo e uma casquinha de limão.
Ela triturou a casquinha entre os dentes, mexendo o gelo com a ponta do indicador, sem beber. Com a movimentação dos outros, levantando o tempo todo para dançar rocks barulhentos ou afundar nos quartos onde rolavam carreiras e baseados, devagarinho conquistou uma cadeira de junco junto a janela.
A noite clara lá fora estendida sobre Henrique Schaumann, a avenida poncho & conga, riu sozinha.
Ria sozinha quase o tempo todo, uma moça magra querendo controlar a própria loucura, discretamente infeliz.
Molhou os lábios na vodka tomando coragem de olhar para ele, um moço queimado de sol e calças brancas com a barra descosturada.
Baixou outra vez os olhos, embora morena também, e suspirou soltando os ombros, coluna amoldando-se ao junco da cadeira.
Só porque era sábado e não ficaria, desta vez não, parada entre o som, a televisão e o livro, atenta ao telefone silencioso.
Sorriu olhando em volta, muito bem, parabéns, aqui estamos.
Não que estivesse triste, só não sentia mais nada."
...

2 comentários:

Paula Schubach disse...

qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência, né?

Anônimo disse...

fazendo uma visita a minha querida visitante! como estás, viveca? em boa companhia, vejo - caio fernando de abreu. beijos meus! (rimou)