domingo, 19 de outubro de 2008

Foi-se

Por Viveca Santana

Eu te amei.
Amei mais do que podia.
Mais do que os meus ossos e meu corpo todo poderiam agüentar, mais do que os soluços de choro, mais que o disparar do meu coração no peito e mais que as minhas mãos trêmulas em situações de encontros.
Amei os desencontros. Os dilemas na hora de me vestir para você.
Amei mais que os meus olhos cheios de lágrimas (diárias e sólidas) poderiam derramar nas noites mal dormidas e nos finais de semana de crise.
Amei seu sorriso que não era pra mim, teus olhares contrariados, sua falta de vontade em me ver, amei os beijos que você não me deu, a história que nunca tivemos.
Amei ficar doente e criar a ilusão que você ligava para as minhas dores.
Amei sair pelas ruas triste, ouvir teu nome nos lábios de alguém, espalhados por cartazes na rua que só eu enxergava - as crianças chamadas pelos pais no parque, tinham o teu nome sempre.
Amei te ver, mesmo que de longe, ouvir sua voz, mesmo que não fosse para mim.
Amei ler num livro uma frase bonita e guardar ela pra mim, lembrando de você em cada linha, cada ponto, cada vírgula.
Era como se tudo estivesse envenenado de nós dois. Ou das minhas histórias criadas.
O ar tinha teu cheiro onde eu passava. A voz tua era ouvida no ônibus, as lembranças surgiam em músicas que para mim, eram nossas: viravam videotapes rápidos na minha cabeça cheia de incerteza e melancolia diária.
...
Num desses dias de sol, meu amor acabou. Assim, fulminante como um piscar de olhos.
Não te vi mais na minha rotina, seu rosto não tinha mais os traços fortes de antes.
Os dias ébrios, de olhos vermelhos se perderam numa passagem de horas.
O sentido das coisas agora era meu, me pertenciam as perdas, minhas cicatrizes, meus encontros e incoerências.
Agora eu podia dar rumo a um caminho que meus pés sentiam ao tocar sozinhos, sem a necessidade da tua companhia etérea.
Sem esperar o chão desabar e me sugar.


** Texto escrito para duas amigas queridas. Simplesmente porque o amor acaba e a gente segue em frente, em busca de novos amores.

17 comentários:

Unknown disse...

Viveca,

muito bom mesmo...você como sempre atualizada com a vida....parabéns...beijos!!!!

Laert disse...

Legal Veca,
A vida tem dessas coisas mesmo. Um ciclo termina e outro começa, independente de ser bom ou ruim.

Mas...o que é bom e ou que é ruim?

Christiana Fausto disse...

Vi,

Lindo texto, profundo, tocante! Vc cada dia melhor, hein, menina? Grande beijo, c.

Anônimo disse...

"coração dos outros é terra que ngn anda".
que vantagem essa que temos de mesmo na nossa dor, guardamos ela bem lá no fundinho e dela ressurgirmos mais forte e com novas páginas em branco para novas histórias.
bjkas

Marcos disse...

Laert perguntou o q é bom e o q é ruim. Ruim eu nao sei, mas bom é um ler um texto desses. Bjs

Adriano Docconi disse...

Muito bom Viveca! Conseguiu passar os sentimentos de um amor perdido/não realizado muito bem. Me lembrou de alguns que não alcancei. Beijo moça!

Adriano Queiroz disse...

Estes textos me confirmaram duas coisas:
1º Amor é uma via de mão única, ninguém ama igual e acho que nem deve.
2º Amor acaba, que bom, se todos nós pensassemos que o amor acaba, talvez tentaríamos viver melhores momentos enquanto podemos.

Adorei o texto, parabéns!

Paula Schubach disse...

Amei o texto todo, como eu já tinha dito. Sincero, doído, muito particular e ao mesmo tempo universal - acho que todo mundo que viveu um amor não-totalmente-correspondido na vida se identifica. Mas as minhas partes preferidas, aquelas que eu gostaria de ter escrito, são essas aqui, ó:

"Os dilemas na hora de me vestir para você..."

"As crianças chamadas pelos pais no parque, tinham o teu nome sempre."

"Era como se tudo estivesse envenenado de nós dois."

Lindo!

Anônimo disse...

Lindo Veca!

Era tudo que eu precisava ler nessa manhã! Tenho certeza que nada é por acaso. Amo vc e sua sensibilidade!
Rafa Karosso

Anônimo disse...

Fantástico!!!

Bjão Veca

Anônimo disse...

E amar sempre vai ser essa profusão de sentimentos... Lindo! Lindo! Lindo!!!!

Bel disse...

Excelente texto Vibe.
Refletindo como sempre a sua sensibilidade.

Beijos!

BelaCavalcanti disse...

E que bom que é assim né, Viveca? Creio que o que importa é não esquecer nunca que o amor habita em nós. Ainda acho que essa é a melhor forma de ser "encontrada". Para quem acredita no amor e quer vivê-lo, basta carregá-lo dentro de si - mais dia, menos dia,o outro aparece. Não tem como ser diferente.

Anônimo disse...

fiquei sem palavras, Viveca.
belíssimo texto. forte, sensível e verdadeiro com uma força imensa.
beijão!

Anônimo disse...

Viveca, quanto ao seu texto, sem comentários, não precisa comentar algo que se autoexplica.

Muito legal a forma subjetiva do texto, é inteligente e criativo.

Bjs.

Lisandro

Anônimo disse...

Lindo texto.
Uma situação vivida por quase todos no decorrer de nossas existências.
Amei!
beijo

Bruna O. disse...

"E exigimos o eterno do perecível, loucos".