sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

"Uno dos tres catorce"



por Viveca Santana

Semana difícil. Difícil descrever como pode ser triste assistir U2 e Rolling Stones na mesma semana, pela TV. Um horror. Mais ainda quando se está longe, sabendo que poderia estar lá também e pelos motivos óbvios da vida, existirem as tais obrigações mundanas –as coisas da rotina chata.
Não sei se tenho cacife pra comentar qualquer coisa, mas tentarei ser sensata afirmando que foram inegavelmente os dois acontecimentos do ano. Graças ao delay (uma mentirinha inventada pelas emissoras), os espectadores puderam ser enganados acreditando que todos o takes dos shows eram em tempo real, como se estivéssemos assistindo de camarote - U2 e Rolling Stones, depois do Big Brother e super simpáticos oferecendo um descanso de 1 minuto, nos doces momentos de intervalo da margarina, da cerveja da Ivete Sangalo, do banco e do cartão de crédito.
Muito mais legal ainda é ver os artistas brasileiros nos programas estilo paparazzi querendo aparecer mais do que as bandas, a pseudo mãe-de-filho-do roqueiro fazendo a mis en scène de primeira dama e as brigas por vagas nos camarotes e áreas vips - show grande no Brasil se torna a melhor oportunidade de aparecer.
Agora vem um consolo ou quem sabe uma pontinha de esperança - ouvi falar que este ano, o Brasil vai servir de cenário para alguns shows de bandas que nem são tão conhecidas como o U2, nem tão antigas quanto os Rolling Stones, mas que não perdem em nada na classificação “legais”, “cool”, “muito bom” e “da moda” : Supergrass, Arctic Monkeys (que já falei aqui), Oasis, Jamiroquai (pra quem gosta), The Who, Interpol, Madonna (à la Dancin´days) e o dulcíssimo Coldplay , são as promessas. Campari Rock, Tim Festival e Claro que é Rock são os festivais de empresas “boazinhas e antenadas” que investem no rock e fazem a alegria de alguns amantes da boa música (de quebra realizam um bom merchand) – estes aí são ótimos para descobrir bandas estranhas que vão virar um sucesso – lembraram até da funkeira moderna M.I.A no ano passado (vencedora no critério estranha).
Tá. E como prometi, não vou falar mais nada. Nem do U2 e muito menos dos Rollings Stones. Não tenho o que falar – vi pela TV.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

Torta de maçã


por Viveca Santana

Tenho escutado algumas coisas legais depois que perdi o preconceito de ouvir.
Na verdade, eu já conhecia a americaninha Fiona Apple em um dia longíncuo, zapeando com o controle remoto em alguns canais de música – pude ver um dos seus vídeos, Criminal, em que ela, magrinha e indefesa faz o tipo “sou bem vagabunda quando posso ser” (esse dirigido por Mark Romanek, um dos tais da comunidade cool rock n´roll).
É fácil curtir a cantora com o seu estilo bacana/sacana que faz música já que é bem entendida na coisa (a figura toca piano clássico desde seus 8 anos, dizem).
Fionna Apple aparentou ser um daqueles casos de fama explosiva, "cantora do momento", " nova diva da música" e outros títulos que a indústria fonográfica cria, como foi a Alanis Morissette e a Norah Jones (ganharam Grammy, ficaram ricas, apararam as pontas dos cabelos e que cultivaram um público feliz com sua obra - aqueles fãs que num show são capazes de chorar e exibir um cartaz cor de rosa, bem sem-vergonha – apesar da Norah Jones fazer o tipo fina, educada e com admiradores – fãs nunca! e ter uma voz muito boa, eu admito) .
Os críticos de vez em quando acertam e por total curiosidade, eu voltei a ouvir a Fiona Apple depois de uns 4 anos. Com 3 cd´s lançados por aí , o último “Extraordinary Machine” é considerado uma das melhores coisas para se ouvir ultimamente. “Tidal”, o primeiro, diferente, melancólico e doce (a própria Apple fez os arranjos de piano), não chega aos pés do atual, uma mistura de jazz-com-rock-e-com-blues; o cd todo daria uma ótima trilha para filmes antigos em p&b, ou para se dirigir na chuva, quem sabe (e tem que ser pra bem longe, já que o cd tem faixas longas e densas, me lembram até a delícia que é ouvir qualquer coisa da Billie Holliday ou da Nina Simone) ...
O som é diferente, introspectivo, há solos de piano e cello belíssimos e acaba sendo um boa pedida para curar a dor de cotovelo – a opção é comprar o cd e se não houver jeito de gostar, você pode oferecer para aquela namorada que está louca pra discutir a relação.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

Macacos, rock e algumas baboseiras



por Viveca Santana


Sabe aquela música que você ouve uma vez e não gosta, ouve duas e pára pra escutar melhor e na terceira se ouvir, já está por aí dançando?
Então, tente ouvir algo do Arctic Monkeys.
Talvez os fanáticos por Britpop confundam com o estilo urbano do The Libertines ou simplesmente acreditem ser mais uma opção do neo rock (leia-se Strokes, The Yeah Yeah Yeahs, Franz Ferdinand, Arcade Fire...), mas não é. Ou se é, podemos pensar no novo estilo que se criou – mais baterias, guitarras, zero de firulas e muita atitude (vá lá, pode ate ser). E que bom que o rock está mudando.
Obviamente o Arctic Monkeys virou febre em Londres, logo no lançamento do seu primeiro single, o "I Bet You Look Good on the Dancefloor" - seu cd de estréia “Whatever you Sam i am, that´s what i´m not”, lançado no último dia 30, já é um dos mais vendidos na Europa, quase batendo bandas da moda, como o Oasis com o seu de última, “Definetely maybe”.
Alguns críticos já dizem que trata-se de um embuste da mídia, algo como uma cria de laboratório movida a Marketing para vender cds (o Arctic vendeu 120 mil cópias em 24 horas graças à divulgação de faixas na internet, de graça) ou ainda, que se comparam aos históricos Beatles no critério histeria.
A banda composta por quatro adolescentes de Sheffield que fazem o estilo roqueiros style/decadentes – a característica que ultimamente mais tem atraído fãs – foi formada em 2003 e hoje é contratada da Domino, gravadora do inovador Franz Ferdinand.
As faixas do primeiro cd são bem simples (13), mas com um ritmo provocador e denso – há quem ouça e acredite estar envolvido numa session e em meio a todos os ruídos audíveis de uma banda (também pode ser o tipo de trilha perfeita para inventar coreografias ridículas e divertidas ou cantar gritando – apostas nas faixas Cigarrete Smoke e Mardy Bum, maravilhosas).
E para os que não foram infectados pela fenômeno da net, só resta indicar o caminho das pedras – tentem baixar qualquer uma e depois das três etapas me contem se dançaram, se odiaram ou se pensam em escutar um pouco mais.