quinta-feira, 3 de agosto de 2006

Revista argentina de humor critica "correção política" na AL

Na entrada da revista satírica Barcelona você dá de cara com um teste de múltipla escolha. Ali, uma pergunta: "Como você acha que que vai terminar o conflito no Oriente Médio?".Entre as alternativas: "Israel ganhará e obrigará o mundo inteiro a comer matzá por toda a vida"; "O Hizbollah vai ganhar e decidirá que a Terra Santa se espalhará até a Argentina, onde colocarão Menem de volta na Presidência", ou, ainda, "todo o Oriente Médio será destruído pelos Estados Unidos".Assuntos políticos explosivos, temas religiosos ultra-delicados, um sem-número de costumes da sociedade argentina e os maus hábitos e cacoetes da imprensa local são os temas pelos quais deitam e rolam (de rir) os jornalistas que fazem esse periódico quinzenal, independente e que vende cerca de 13.500 exemplares por edição desde a sua fundação, em 2003.
Há quem acuse a revista de fazer uso oportunista do politicamente incorreto para causar sensação numa sociedade que hoje é conservadora no que diz respeito à imprensa. O diretor da publicação se defende: "A incorreção política não nos interessa, pois trata-se de provocação gratuita. Gostamos, sim, de fazer o que politicamente nos parece, justamente, que é correto. O que se conhece por "correção política" mesmo, na maioria dos casos, me parece uma imbecilidade", disse Pablo Marchetti à Folha.
Seu título evoca a cidade dos sonhos de muitos imigrantes que fogem das ciclotímicas crises argentinas e sonham com o glamour e os empregos de uma cidade cosmopolita em que podem se virar e sobreviver sem ter de aprender uma outra língua. Já o subtítulo, "una solución europea para los problemas de los argentinos" reforça o não menos ridículo --ainda que pensado para ser sério-- subtítulo do jornal "Clarín", "un toque de atención para la solución argentina de los problemas argentinos".
Na edição de nº 87, que se encontra agora nas bancas, está uma notícia sobre Kirchner negando que pretenda adotar mais políticas nacionalizantes.
A ilustração? Uma fotomontagem de manifestação na extinta União Soviética com a multidão carregando placas de Marx, Lênin e... do próprio Kirchner. Em outra edição recente, a publicação questionou o "mito" que se criou do futebol argentino como uma potência, colocando em dúvida os dois mundiais conquistados pela seleção (um teria sido "roubado", com uma mãozinha dos militares, o outro, com o gol de mão de Diego Maradona).
Da política do governo com relação aos imigrantes ("seria legalizado o porte de escravos bolivianos para consumo pessoal") à ambição dos argentinos em "emplacar" um papa nacional ("Bergoglio [o papável deles]: "é muito difícil competir com um nazista alemão'"), poucos assuntos nacionais e internacionais relevantes ficam de fora da pauta da revista.Para mascote da Copa da África do Sul, em 2010, sugeriram o mascote "Esclavito", um menino negro com um osso na cabeça e grilhões nos pés. Mas a idéia, dizem eles, é apenas satirizar a histeria coletiva em torno dos mundiais e o que eles representam como grandes negócios publicitários.As provocações fizeram a "Barcelona" multiplicar seus meios de ação.
Além de participarem de programas de TV e rádio, os jornalistas acabam de lançar "Puto El Que Lee - Diccionário Argentino de Insultos, Injúrias e Impropérios" (ed. Barcelona, 2006). Marchetti justifica a publicação contando que muitos dos termos que os argentinos usam no dia-a-dia não estão escritos em lugar nenhum. "Nesse sentido, o dicionário serve também como um trabalho lingüístico que dá conta da maneira como falamos neste determinado momento da história argentina."
Folha de SP - 31/07/2006
www.revistabarcelona.com.ar
*Política também é diversão, que digam os Sanguessugas.

3 comentários:

Anônimo disse...

muito muito bom vivequinha querida do meu coração.

Anônimo disse...

insano...

Marcelo Stern disse...

Parece que a Secretária de Estado americana vai passar a se chamar "Condolência" Rice, já que sempre é portadora de más notícias...

Este post só comprova que argentino é mesmo danado para fazer humor, especialmente quando é para sacanear a eles próprios (parece que o assunto favorito deles são... eles!).
Espero que eles consigam publicar o tal dicionário. Assim, quem sabe a torcida corintiana começa a entender o Tevez? Hehehehehehe...

Quanto ao seu gentil comentário, o "Quem é Doido?" agradece, penhorado e, principalmente, assustado com a súbita responsabilidade de ter que falar a mais do que meus habituais 13 leitores! Caracas, se continuar assim, daqui a pouco já serão 15...