domingo, 1 de março de 2009

Tinindo trincando

Por Viveca Santana

Alguns passos ébrios pelo Rio Vermelho, as mãos passando pelas paredes ressacadas pelo sol, sons fora do tom, a voz dela não saía mais.
Já eram quase 4h da manhã e ela incansável continuava, andando com seu All Star surrado de tempo, tropeçando nos próprios passos e olhando tudo em volta.
Para ela era tão bom viver intensamente assim, sem a tonalidade das vozes, fora do ar por instantes, sons , toques que tomavam o corpo todo.
Não lembrava o que tinha que fazer amanhã - certamente acordaria de ressaca, andaria atrás de um copo d´água e um comprimido, derrubando tudo e voltaria para cama.
Alguém veio falar com ela, tocou seu ombro (não queria que a vissem naquele estado, baixou o rosto). Não teve vontade de responder, a viagem estava ótima sem falar, sem a realidade que aquela quantidade de coisas exigia, um monte de espaços que ela estava pulando e que ninguém entenderia.
-Quem era mesmo ? perguntou a si mesma.
Viu que não tinha que se misturar.
Não conseguiu traduzir uma linha do que pensava, as frases surgiram descompassadas e ela sabia que não percebiam o que queria dizer.
Envergonhou-se.
Que a deixassem só de novo.
Calou mais uma vez, franziu a testa, acendeu o último cigarro da carteira, pediu mais uma cerveja e continuou a olhar pro mar.
Não se sentiu nem um pouco decadente, era bom sobreviver ali : barquinho lá longe, gente lá longe, um menino perdido na noite com um catavento nas mãos, longe, longe.
Tudo tinha uma graça particular que a rotina jogava fora.
O mundo podia acabar que ela não tinha mais nada a dizer.

7 comentários:

milk disse...

lindo texto veca...

um pouco de verdade para não morrer de mentira...

beijo nocê.

Marcos disse...

Muito bom mesmo!

Anônimo disse...

Um take de vida no bairro boemio.

mto bom veca.

senti até a brisa da cena.

bjo

Anônimo disse...

menina, vc continua cada vez melhor...

Emmanuelle Kant disse...

Xará, tava aqui gravando os teus filmes e resolvi visitar teu blog, ler teus textos, justamente no momento em que gravo (agora) L'Avventura, leio teus contos antoniônicos...

Marcos Sergio disse...

Obrigado pela visita. Talvez seja a primeira do blog. Valeu pelo elogio.

Paulo Tavares disse...

Pode mudar a personagem, pode mudar o cenário, mas a sensação deliciosa de desprendimento do corpo será sempre a mesma.
Deliciosa...