sábado, 14 de junho de 2008

Olívia.

Por Viveca Santana

Olívia tinha idéias que ninguém tinha.
Agora perto dos 4o anos, parecia uma menina com mais idéias ainda, uma versão da Emília do Lobato com sotaque nordestino. Vivia numa cidade bem grande. Grande somente perto do tamanho dela.
Os prédios altos da cidade de São Paulo, às vezes engoliam suas reinações, os dias cinzas misturados, confundiam a sua cabecinha, agora de cabelos lisos e negros, pintados como deviam ser antes.
Nas conversas de amigos, Olívia era menção constante : tornou-se figura folclórica no Riacho Fundo, no Rio Vermelho, nas mesas de bar, nas praias do Norte.
Os convescotes não eram mais os mesmos, diante da falta dos seus trejeitos teatrais, do jeito que segurava o cigarro entre os dedos, dos seus levantes nas pontas dos pés, em momentos de raiva. Crescia e se tornava um gigante, como os das histórias dos livros empoeirados de sua estante.
Olívia agora vivia só. Numa casinha como ela queria, perto da sua poesia, sua.
O tom que via da sua janela agora era gris, mas era seu.
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