quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Desafinada

Por Viveca Santana

Os textos têm saído meios disformes, desconexos. Meio em pedaços.
Todos escritos ao som de Vinícius e João Gilberto (e um pouco de música francesa).
Tenho brigado um pouco comigo mesma – assumi que esse ano vou me estressar menos, deixar de me preocupar com pequenas coisas e como digo decidida à uma grande amiga – vai ser meu ano de desapego (ela ri todas as vezes, faz pouco, mas é verdade).
Só não sei como vou me desapegar dos cd´s, das palavras, dos livros, das discussões e dos lapsos de memória.
E das coisas realmente importantes, impossíveis de desapegar e que pra ser sincera, nem pretendo.
Ando morrendo de saudade da minha insônia, que ultimamente rancorosa, me abandonou ao sono medíocre depois da novela das oito. Bukowski me observa irônico, na estante, pré-terminado e me esperando ao lado dos outros livros - odiando a minha impessoalidade e desinteresse repentinos.
E a agenda neste período, cheia de poesias de Drummond, reescritas e rabiscadas antes do sono.
Na próxima, prometo. Só falo de rock.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Minha filha, se acaso o Vacuum Cleaner


Por Vinícius de Moraes

** Texto perfeito para a entrada do ano e para a falta de paciência excessiva dos dias de hoje.


Minha filha, se acaso o Vaccum - Cleaner
Em meio à lida te fizer doesto
Não grites, porque a coisa é pequenina
Não te enerves de resto

Não te enerves tampouco com a galinha
Se por pristina não cozeu bastante
Ou com o fio da meia, ou com a sentina
Ou com o nó do barbante

Não praquejes ao alegre cocker-spaniel
Se maculou de lama o teu soalho
Nem a ti mesma, se impaciente
Aumentas teu trabalho

Aprende a manejar da paciência
Os muitos bilros do tear infindo.
E a olhar os bens imóveis com clemência
E os azares sorrindo

Guarda tua impaciência, minha filha
para o fascista sanguinário e duro
O que olha a vida com malevolência
E tem ódio do futuro

Guarda tua impaciência para o infame
Que fez do negro o tenebroso fruto
A balançar os galhos e marcar
As campinas de luto

Guarda tua impaciência para o monstro
Que numerou os judeus em ferro e brasa
E aos que por egoísmo tanto tempo
Os privavam de casa

Deixa que só exploda a tua cólera
Sobre o homem do carisma de Deus
Que diz ao pária: Sofre! é teu destino!
Sofrer leva-te aos céus!

E com a direita afaga-lhe a cabeça
E com a esquerda toma-lhe uma esmola
Para erigir um templo onde era tempo
De se erguer uma escola

Reserva a tua ira aos que não ouvem
Aos que preferem não se misturar
E abafam com quartetos de Beethoven
A grita popular.


* Vacuum Cleaner: Aspirador de pó


Ler ouvindo: Wishlist do Pearl Jam