domingo, 23 de agosto de 2009

Bela flor

Por Viveca Santana e Potato

Bela flor, que em paz no jardim resiste
Que deixa o vento despetalar
com o prazer do teu sopro

Vive, brilha, mas intocada
as cores tuas ante as primaveras, desbotadas
a vaidade segura, tremulante

O perfume guardado em surpresa
a solidão intensa
impregnada em essência frágil

Bela flor, que em paz no jardim resiste
vai plantando sentimento, bela flor,
plantando em qualquer parte

Nestas pétalas soltas, minha flor
o vento leva a certeza
de que num dia de sol,
a primavera volta pra te mimar

domingo, 9 de agosto de 2009

Alzira

Por Viveca Santana

- Eu sei quem você é, Alzira. O jeito que você esconde as mãos de unhas roídas, cheia de incertezas e ansiedades, a maneira que segura o copo de vodka, mais alto que o rosto, querendo se esconder nas pedras de gelo lá dentro. Eu sei tudo sobre você. Até o jeito que você se perde numa conversa quando não quer participar e fica por aí, sei lá onde, viajando em alguma loucura, se dissimulando. Outro dia percebi como você anda, querendo arrancar o sapato alto, jogar eles longe, cair descalça ladeira abaixo, correndo de braços abertos na rua, tocando nas mãos de quem não conhece, como se conhecesse faz tempo, em outras vidas.
-...
-Você é louca Alzira ? Devia voltar para a terapia, fazer Ioga, parar de beber tanto, parar de escrever tanto, ser normal. O médico disse que é bom você tomar leite. Você só toma café o dia inteiro, não te faz bem, meu amor. Olha, estou falando contigo - você se distraí até com o cachorros da rua. Tá ouvindo o que eu digo, Alzira?
-...
- Anda, pára de desenhar no vidro.
-...
- Quando chegarmos em casa, vou jogar aqueles cds estranhos que você ouve numa caixa e guardar no armário - eles não te fazem bem. Todas as vezes que vejo você ensaiar dançar aquilo no quarto, tenho medo de ter que te internar de novo. Lembra do que o médico disse?
- Lembro.
- Tem que ser um pouquinho mais normal nessa vida, Alzira. Ou as pessoas nunca vão gostar de sua presença. Eu sempre fico com vergonha quando você vem com aquele papo de Truffaut, Nouvelle Vague, aquelas bandas estranhas e sei lá o quê. Ou quando você ouve alguma música e começa a dançar sozinha querendo tocar na luzes, no ar. Todos ficam olhando pra você. E suas roupas? Você não combina nada, como as meninas normais...não pode Alzirinha. Ninguém entende o que você diz, meu bem. Você fica chata assim.
-...
-Tá tomando o remédio que o doutor mandou?
-Tô.
-Olha quando a gente chegar em casa, a gente faz pipoca e passa o dia vendo o futebol na Tv. Depois eu te levo pra ver a mamãe, se você não estiver cansada. Ela sente sua falta... Ou a gente procura na locadora um daqueles filmes de gente normal pra rir um pouquinho, tá?