sábado, 29 de agosto de 2009
domingo, 23 de agosto de 2009
Bela flor
Por Viveca Santana e Potato
Bela flor, que em paz no jardim resiste
Que deixa o vento despetalar
com o prazer do teu sopro
Vive, brilha, mas intocada
as cores tuas ante as primaveras, desbotadas
a vaidade segura, tremulante
O perfume guardado em surpresa
a solidão intensa
impregnada em essência frágil
Bela flor, que em paz no jardim resiste
vai plantando sentimento, bela flor,
plantando em qualquer parte
Nestas pétalas soltas, minha flor
o vento leva a certeza
de que num dia de sol,
a primavera volta pra te mimar
Bela flor, que em paz no jardim resiste
Que deixa o vento despetalar
com o prazer do teu sopro
Vive, brilha, mas intocada
as cores tuas ante as primaveras, desbotadas
a vaidade segura, tremulante
O perfume guardado em surpresa
a solidão intensa
impregnada em essência frágil
Bela flor, que em paz no jardim resiste
vai plantando sentimento, bela flor,
plantando em qualquer parte
Nestas pétalas soltas, minha flor
o vento leva a certeza
de que num dia de sol,
a primavera volta pra te mimar
domingo, 9 de agosto de 2009
Alzira
Por Viveca Santana
- Eu sei quem você é, Alzira. O jeito que você esconde as mãos de unhas roídas, cheia de incertezas e ansiedades, a maneira que segura o copo de vodka, mais alto que o rosto, querendo se esconder nas pedras de gelo lá dentro. Eu sei tudo sobre você. Até o jeito que você se perde numa conversa quando não quer participar e fica por aí, sei lá onde, viajando em alguma loucura, se dissimulando. Outro dia percebi como você anda, querendo arrancar o sapato alto, jogar eles longe, cair descalça ladeira abaixo, correndo de braços abertos na rua, tocando nas mãos de quem não conhece, como se conhecesse faz tempo, em outras vidas.
- Eu sei quem você é, Alzira. O jeito que você esconde as mãos de unhas roídas, cheia de incertezas e ansiedades, a maneira que segura o copo de vodka, mais alto que o rosto, querendo se esconder nas pedras de gelo lá dentro. Eu sei tudo sobre você. Até o jeito que você se perde numa conversa quando não quer participar e fica por aí, sei lá onde, viajando em alguma loucura, se dissimulando. Outro dia percebi como você anda, querendo arrancar o sapato alto, jogar eles longe, cair descalça ladeira abaixo, correndo de braços abertos na rua, tocando nas mãos de quem não conhece, como se conhecesse faz tempo, em outras vidas.
-...
-Você é louca Alzira ? Devia voltar para a terapia, fazer Ioga, parar de beber tanto, parar de escrever tanto, ser normal. O médico disse que é bom você tomar leite. Você só toma café o dia inteiro, não te faz bem, meu amor. Olha, estou falando contigo - você se distraí até com o cachorros da rua. Tá ouvindo o que eu digo, Alzira?
-Você é louca Alzira ? Devia voltar para a terapia, fazer Ioga, parar de beber tanto, parar de escrever tanto, ser normal. O médico disse que é bom você tomar leite. Você só toma café o dia inteiro, não te faz bem, meu amor. Olha, estou falando contigo - você se distraí até com o cachorros da rua. Tá ouvindo o que eu digo, Alzira?
-...
- Anda, pára de desenhar no vidro.
-...
- Quando chegarmos em casa, vou jogar aqueles cds estranhos que você ouve numa caixa e guardar no armário - eles não te fazem bem. Todas as vezes que vejo você ensaiar dançar aquilo no quarto, tenho medo de ter que te internar de novo. Lembra do que o médico disse?
- Lembro.
-...
- Quando chegarmos em casa, vou jogar aqueles cds estranhos que você ouve numa caixa e guardar no armário - eles não te fazem bem. Todas as vezes que vejo você ensaiar dançar aquilo no quarto, tenho medo de ter que te internar de novo. Lembra do que o médico disse?
- Lembro.
- Tem que ser um pouquinho mais normal nessa vida, Alzira. Ou as pessoas nunca vão gostar de sua presença. Eu sempre fico com vergonha quando você vem com aquele papo de Truffaut, Nouvelle Vague, aquelas bandas estranhas e sei lá o quê. Ou quando você ouve alguma música e começa a dançar sozinha querendo tocar na luzes, no ar. Todos ficam olhando pra você. E suas roupas? Você não combina nada, como as meninas normais...não pode Alzirinha. Ninguém entende o que você diz, meu bem. Você fica chata assim.
-...
-Tá tomando o remédio que o doutor mandou?
-Tô.
-Olha quando a gente chegar em casa, a gente faz pipoca e passa o dia vendo o futebol na Tv. Depois eu te levo pra ver a mamãe, se você não estiver cansada. Ela sente sua falta... Ou a gente procura na locadora um daqueles filmes de gente normal pra rir um pouquinho, tá?
domingo, 26 de julho de 2009
Quinto Fragmento da Décima Terceira Voz
Tanto sangue dentro do meu derramado coração, era assim? Talvez fosse, mas não se trata disso. Lamúria insuportável, o corpo, esse que se arrasta com suas carências. Não precisa pressa, calma lá. A porteira está fechada para quem quiser passar, era isso? Já te disse que não responderei. Quero saber, e depois? Passaram-se meses, ele voltou. Foi longo. Doía. Continua doendo. Ainda não acabou. Passa, passará. Às vezes ficávamos deitados na minha cama enquanto eu tentava decifrar o seu destino. Marte, Ossanha gostava das folhas, das pedras. De peixes também. Ele me ensinou que as pedras eram vivas. Desde então eu as mantenho imersas em copos cheios d’água, para que cresçam. São muitas. Agora espero outro. Que como ele, não será mais do que Uma Nova Metáfora do Encontro. Por enquanto espio as pombas nas cumeeiras. Quando não há música, canto. Quando paro de cantar, como maçãs. Os talos estão jogados pelo quarto, entre os lençóis. Apodrecem como meus sentimentos, jogados na via-láctea. Esfrego a lâmpada, mas o gênio se foi. Talvez me bata outra vez contra as grades da janela até me levarem para a mesa de choques.
Caio Fernando Abreu
Para ler ouvindo: http://www.youtube.com/watch?v=08_2eTj3wsA
(uma das preciosidades do New Order, numa versão do Radiohead, muito boa como sempre).
Para ler ouvindo: http://www.youtube.com/watch?v=08_2eTj3wsA
(uma das preciosidades do New Order, numa versão do Radiohead, muito boa como sempre).
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Ópio
Ela não se preocupou em momento algum em catá-las dos pés sujos de terra, de pólen e grama ou dos braços, de onde surgiam muitas muitas muitas, bem avermelhadas e com pressa em fugir nas suas poucas curvas.
Preferiu ficar olhando o sol forte e raiado, acreditando que era tão doce que as formigas se enchiam aos montes e se uniam, no seu corpo cor de açúcar.
sexta-feira, 10 de julho de 2009
terça-feira, 7 de julho de 2009
Nossa música
Por Viveca Santana
A nossa música tocou hoje, depois de meses em que evitei de ouví-la, com medo de chorar ou lembrar de você. Ou com medo de ter medo, de novo.
Algumas farpas continuam aqui e ali, ainda bocejo sem sentir graça no despertar, ainda tenho parte do teu cheiro quando tento ou procuro dormir.
Você ainda se escora lá no meu peito ardendo, em algum lugar que não consigo encontrar e tirar de mim, mesmo que à força (e que arranque parte da pele e desprenda meu sangue, me dilacere de maneira invisível). Talvez esteja em todos os lugares que passam lembranças pelo meu corpo, não sei.
A nossa música, a minha música, a tua música, me fez chorar de novo e eu percebi que fujo dela todas as vezes, porque você não está aqui para falar como ela é bonita de ouvir, ou da quantidade de coisas que ela pode te fazer lembrar ou querer esquecer.
Virou meu fantasma, mas com certa beleza que não sei explicar o que é, com um medo intenso de reaver emoções que eu quis guardar.
Dessa vez consegui ir com ela até o fim, trêmula, derramando lágrimas em cada estrofe, apertando os olhos e pensando em você, na sua voz (que por mais que eu ache que não vou lembrar, eu lembro), em uma quantidade de coisas que eu quis dizer e não tive coragem e agora estão presas em mim, algemadas pra onde eu resolver me atirar, na intenção de abandonar pra sempre.
A coragem que eu achei que existia, transformou-se numa dúvida que você me cobriu, deixou riscada na pele e agora é a única herança que eu tenho de você, mesmo que eu não queira. Mudou tudo na carne dura, ausente e pálida de antes.
Nossa música ficou aqui, comigo pra eu lembrar. Pra eu mudar mesmo que eu acredite ser impossível.
Para ler ouvindo Love Will Tear Us Apart- Joy Division
A nossa música tocou hoje, depois de meses em que evitei de ouví-la, com medo de chorar ou lembrar de você. Ou com medo de ter medo, de novo.
Algumas farpas continuam aqui e ali, ainda bocejo sem sentir graça no despertar, ainda tenho parte do teu cheiro quando tento ou procuro dormir.
Você ainda se escora lá no meu peito ardendo, em algum lugar que não consigo encontrar e tirar de mim, mesmo que à força (e que arranque parte da pele e desprenda meu sangue, me dilacere de maneira invisível). Talvez esteja em todos os lugares que passam lembranças pelo meu corpo, não sei.
A nossa música, a minha música, a tua música, me fez chorar de novo e eu percebi que fujo dela todas as vezes, porque você não está aqui para falar como ela é bonita de ouvir, ou da quantidade de coisas que ela pode te fazer lembrar ou querer esquecer.
Virou meu fantasma, mas com certa beleza que não sei explicar o que é, com um medo intenso de reaver emoções que eu quis guardar.
Dessa vez consegui ir com ela até o fim, trêmula, derramando lágrimas em cada estrofe, apertando os olhos e pensando em você, na sua voz (que por mais que eu ache que não vou lembrar, eu lembro), em uma quantidade de coisas que eu quis dizer e não tive coragem e agora estão presas em mim, algemadas pra onde eu resolver me atirar, na intenção de abandonar pra sempre.
A coragem que eu achei que existia, transformou-se numa dúvida que você me cobriu, deixou riscada na pele e agora é a única herança que eu tenho de você, mesmo que eu não queira. Mudou tudo na carne dura, ausente e pálida de antes.
Nossa música ficou aqui, comigo pra eu lembrar. Pra eu mudar mesmo que eu acredite ser impossível.
Para ler ouvindo Love Will Tear Us Apart- Joy Division
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