Por Viveca Santana
Submersa em alguns litros d água, via peixes de todas as cores vestindo seu corpo como um véu líquido, devassando sua pele branca.
Olhos abertos no turvo, bolhas surgiam expiradas do peito, tensas e envoltas numa mistura de leveza e peso.
Leves suspiros guardados sopravam de um pulmão cinza, de mulher enjaulada em vícios, frases não ditas e noites mal dormidas.
Na superfície deixavam-se levar pela brisa quente, destino de todos os sonhos, que se partiam fácil como plástico-bolha, em uma mania adquirida em dias de carências de sofá de casa, maços de cigarro e café requentado.
O corpo desejava a terra firme, a areia seca, a angustiosa ordem que virava um musical com jeito de Aznavour, impregnado de saudade e expectativas de recomeço.
Mas enchia de medo a ideia árdua de voltar.
Assim, teimava entre a superfície e o retorno pro fundo, desafiando a gravidade, indecisa entre a proteção da água e a pungência colorida do sol.
A dúvida a estabilizava em ponto morto entre um mundo e outro, doendo costelas e peito, esfriando o estômago, fazendo ranger dentes com a força insistente da indecisão, de quem se acostumou com a inércia e o abandono.
Voltar doía e cansava tanto, que pensava em desistir.
Devia deixar flutuar livre e de braços abertos ou descer ancorada de volta pro fundo, casa de suas ausências, casa de desejos sepultados?
Para ler ouvindo “Bookends, Simon & Garfunkel”.
5 comentários:
todos os frames vieram na minha cabeça traduzindo seu texto em imagens... vc arrasa, babe!
amei seu texto.
bjo.
vai soltando essas borbulhas de amor no coracao...
seus sextos, soda, são imagens suspensas no ar.
abraço
Sensacional.
Xará, só hoje vi suas mensagens no blog, não escrevo mais, nem entro mais lá, qualquer dia desse o blogger me expulsa.
Nunca mais passei por aqui, nem por outros blogs, seus textos continuam belos, o Ponto Morto me lembrou esse conto do Rubem Braga: http://www.releituras.com/rubembraga_braco.asp
Beijo e continue escrevendo.
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