quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Dor de nada.

Por Viveca Santana


Era cansativo viver os dias que não eram como queria viver. Estes dias seguiam sem vontade, as cores não tinham graça e os costumes de muitos não eram os seus.
O Natal era algo triste (nunca foi do jeito que queria que fosse: quieto, insone, sem a alegria desmedida e guardada por um punhado de dias). Geralmente tentava se recolher em algum lugar - copo entre as mãos, olhos nervosos, sons difusos bem longe, desejo de não estar ali e a mesma vontade de chorar de sempre, polida com a solidão ébria das noites sem sono.
Percebia todos os anos como gostava do sofrimento puro, como aquele sentimento a trazia prazer. Na mesma semana, chorou perdidamente ao ver um filme, as lágrimas secas e guardadas há tempos, saiam desejosas por seu suspiro doce e de alívio.
É, procurava pôr aquela dor toda pra fora, escondida e incondicional como sentia, com uma música, com um verso, com um sorriso que trocou com alguém desconhecido.

A solidão confortava mais do que a felicidade, que podia acabar a qualquer momento (ou que podiam tirar dela sem aviso).
A dor era sua, só sua.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Interpol

Mais uma tentativa de sair do marasmo baiano e ver um show de uma banda que dá vício. Perdi The Police, Coldplay, Pearl Jam - parece que me boicotaram de tanto que falei que queria ver.
Em março tem Interpol, no Via Funchal - banda muito boa, que não consigo parar de ouvir ultimamente.
Para os que não conhecem:

http://www.youtube.com/watch?v=RNtGYdm2rOY

http://www.youtube.com/watch?v=fy6-s_jJJ0w

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Inutilidade

Clarice Lispector

Quando fazemos tudo para que nos ame e não conseguimos, resta-nos um último recurso, não fazer mais nada. Por isto digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não façamos esforços inúteis, pois o amor nasce ou não espontaneamente, mas nunca por força da imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais nada se consegue; outras vezes, nada damos, e o amor se rende a nossos pés. Sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido.
Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer.
Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho…o de nada mais fazer.
** O texto é um dos meus preferidos dela, nada a ver com momento, como alguns podem pensar.