quinta-feira, 11 de outubro de 2012
segunda-feira, 10 de setembro de 2012
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Ouro de Tolo
Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros
Por mês...
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros
Por mês...
Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso
Na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar
Um Corcel 73...
Por ter tido sucesso
Na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar
Um Corcel 73...
Eu devia estar alegre
E satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado
Fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa...
E satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado
Fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa...
Ah!
Eu devia estar sorrindo
E orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa...
Eu devia estar sorrindo
E orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa...
Eu devia estar contente
Por ter conseguido
Tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado...
Por ter conseguido
Tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado...
Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto "e daí?"
Eu tenho uma porção
De coisas grandes prá conquistar
E eu não posso ficar aí parado...
E agora eu me pergunto "e daí?"
Eu tenho uma porção
De coisas grandes prá conquistar
E eu não posso ficar aí parado...
Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter me concedido o domingo
Prá ir com a família
No Jardim Zoológico
Dar pipoca aos macacos...
Ter me concedido o domingo
Prá ir com a família
No Jardim Zoológico
Dar pipoca aos macacos...
Ah!
Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco, praia, carro
Jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco...
Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco, praia, carro
Jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco...
É você olhar no espelho
Se sentir
Um grandessíssimo idiota
Saber que é humano
Ridículo, limitado
Que só usa dez por cento
De sua cabeça animal...
Se sentir
Um grandessíssimo idiota
Saber que é humano
Ridículo, limitado
Que só usa dez por cento
De sua cabeça animal...
E você ainda acredita
Que é um doutor
Padre ou policial
Que está contribuindo
Com sua parte
Para o nosso belo
Quadro social...
Que é um doutor
Padre ou policial
Que está contribuindo
Com sua parte
Para o nosso belo
Quadro social...
Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar...
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar...
Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador...
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador...
Ah!
Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar...
Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar...
Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador...
(Raul Seixas)
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador...
(Raul Seixas)
segunda-feira, 2 de abril de 2012
Depois dos 30, você percebe que existem coisas sem importância, esforços sem importância e que nunca poderá mudar a essência, a dureza, a ingratidão e as convicções alheias.
O ser humano vive e movimenta seus dias, suas buscas e suas benesses, fundamentada em si mesmo e no prazer que isso pode causar a seu ego, por mais vistosa que seja a sua pele de cordeiro.
O ser humano vive e movimenta seus dias, suas buscas e suas benesses, fundamentada em si mesmo e no prazer que isso pode causar a seu ego, por mais vistosa que seja a sua pele de cordeiro.
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012
Viver fora
Por Viveca Santana
É acordar em solo novo e ter que reaprender coisas dos tempos de criança - a falar, a conviver com as pessoas, perceber a quantidade de coisas novas que surgem a cada dia, e que te fazem enxergar a vida de uma outra maneira.
É se adaptar a um idioma novo, aos novos limites que não são os nossos, mas que temos que respeitar e assustam, diante das diferenças de tudo o que se aprendeu deste o colo da mãe.
É saber que seu coração é um navegante sem volta, mesmo que um dia você retorne.
Viver em outro país no início, é querer sair todos os dias com a câmera na mochila, fotografando as imagens que olhos não estavam acostumados a ver, andar desatento com a visão perdida no céu, viver deslumbrado com a imensidão do mundo, admirar-se e sempre comparar o que se tem de melhor e o que falta no nosso lar. Viver fora é se aventurar, é se acostumar com a saudade e é ver as lágrimas dos primeiros dias de chegada, secarem. E isso é para poucos - é para quem quer ser levado pelo tempo, de carona. Pra quem tem coração valente.Viver longe é sentir a palavra saudade viva diariamente: saudade da comida de casa, do perfume da mãe, das manias do pai, do abraço dos amigos - dos amigos que a gente escolhe e que são propriedade do nosso coração aonde formos - e que nos acompanham no skype, no msn, no facebook, em cartas e postais, no nosso pensamento. É estar preocupado constantemente com os seus, que estão a um oceano de distância e ver que muitas situações especiais são assistidas de longe, mas com o mesmo afeto, curiosidade, amor e ternura.
É se fascinar a cada esquina, é querer experimentar, se adaptar, entender, envolver-se com uma nova história, com uma nova cultura, viver um recomeço. É ter coração livre, que nem de passarinho.
Viver fora, usando metáforas simples, é cair num buraco escuro, sem medo e sem saber o que tem lá no fundo.
É aterrissar em um universo paralelo onde costumes aceitáveis a nossa cultura, como tocar o corpo do outro (num ato de cumplicidade e de afeto) ou de ser aberto aos novos amigos, se tornam excessos dispensáveis em nossa nova casa. É perceber o quanto se pode mudar e isso não tem fim, basta querer.
É como despertar após uma cirurgia de miopia e voltar a ver o contorno das coisas, as cores, as formas, descobrir dimensões que antes estavam impedidas de enxergar, talvez por conta da rotina de casa, pela falta de sensibilidade que adoece a alma de quem não sai do ninho e teme em sair da sua rotina e mudar seu destino, entregando ele a sorte.
É às vezes conviver com a solidão e não morrer por isso e sim se fortalecer.
É sentir falta de coisas simples, como o seu travesseiro, o seu cachorro te acordando cedinho, dormir no sofá da sala com a TV ligada na sessão da tarde, de ouvir seu idioma e seu sotaque, do pão com manteiga que só sua mãe faz, de poder ligar pra um amigo a hora que for.
Mas viver fora tem a alegria do crescimento, da renovação e do amadurecimento diário. É novamente despertar e ver o quanto você mudou, o quanto está melhor e ver que dentro de você tem uma paz infinita só sua e que seu ninho vai continuar do mesmo jeito que você deixou, com a mesma acolhida e calor. E esse ninho agora tem franquia: está dentro de você.
Para ler ouvindo: Nantes, do Beirut.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
"quando abrir a porta e assomar à escada, saberei que lá embaixo começa a rua; não a norma já aceita, não as coisas já conhecidas, não o hotel em frente; a rua, a floresta viva onde cada instante pode jogar-se em cima de mim como uma magnólia, onde os rostos vão nascer quando eu os olhar, quando avançar mais um pouco, quando me arrebentar todo com os cotovelos e as pestanas e as unhas contra a porta do tijolo de cristal, e arriscar minha vida enquanto avanço passo a passo para ir comprar o jornal na esquina".
Manual de instruções, Cortázar
Manual de instruções, Cortázar
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