Por Viveca Santana
Perdeu o dom da melancolia em algum dia frio de janeiro, ou do inverno que marcava a sua pele quente.
Apartou-a sem pena.
Quando deu de ombros pra melancolia, foi como se ela tirasse os pés daquela superfície pendente de equilibrista. Resolveu se aprumar, seguir em frente sem o medo de sofrer e de se decepcionar. Sentiu um alívio alucinante.Percebeu que era o momento de se desfazer, de jogar fora tudo o que impedisse o encontro com sua paz. Finalmente andava descalça no chão duro, frio e de concreto e não mais em nuvens e sonhos que se perdiam no horizonte e a impediam de seguir adiante. Essas mesmas nuvens a protegiam do mundo real.
Perdeu finalmente o medo de caminhar, perdeu o lamento, o desencanto e resolveu seguir seu caminho sem apoiar-se no ombro de alguém ou desejar o calor humano, como um campo de força viciante. Não precisava mais de tapinhas na costas para não hesitar.
O mundo definitivamente não era como ela queria que fosse.
Foi buscar sua felicidade em si mesma, dedicando-se mais a não esconder-se, a lançar-se no amanhã como algo que só dependia de suas ganas de viver.
E assim ela foi atrás do que lhe é de direito, do que ela sabia que estava por vir sem dó, sem lamento.