Vinicius de Moraes
Pasquim vol. 1
Dê a uma mulher um dedo, e ela quer a mão; a mão e ela quer o braço; o braço e ela quer o corpo; o corpo e ela quer a alma; a alma, e ela quer que comece tudo de novo.
Em estado de amor, sua insatisfação é permanente – e a própria plenitude do ato sexual
(que só é realmente pleno no amor) é apenas a pausa que a apazigua em seu constante e antropofágico trabalho de viúva-negra, sempre a tecer sua teia de artimanhas com que melhor aprisionar o homem, para depois, lentamente, devorá-lo. E essa é ser a mais bela e trágica missão na natureza. Aparentemente mais fraca que o homem em sua disponibilidade e paciência, a mulher é realmente a longo prazo, o ser mais forte, devido a esse constante tecer de fios com que envolve o ser amado até vê-lo totalmente prisioneiro – quando, então, pode dar largas ao seu canibalismo. E para esse efeito, dispõe da mais poderosa das armas, milhões de vezes mais poderosa que qualquer arma nuclear: o sexo.
No homem, o sexo é centrífugo e intermitente. Na mulher, é centrípeta e permanente. Existe nela como conteúdo e continente; enquanto que no homem o sexo é apenas continente. Na mulher, o sexo acorda com ela, espera com ela, trabalha com ela e dorme com ela.
Ela o transporta como um semovente à sua carga, e ele se denuncia ao menor dos seus gestos, pois está ali, no centro do seu ser, para amarrar o homem, para escravizá-lo e fazê-lo , em última instância, cumprir o seu terrível destino de ser devorado.
E o mais terrível de tudo é que, se não for assim, não é como deveria ser, não é como manda a natureza.
Não há escapatória : só esse tipo de relação possui a dimensão da eternidade.
O resto é compromisso, conivência, encontro de solidões, desconversa diante da vida, sexo amigável, medo de enfrentar a fera.
Pasquim vol. 1
Dê a uma mulher um dedo, e ela quer a mão; a mão e ela quer o braço; o braço e ela quer o corpo; o corpo e ela quer a alma; a alma, e ela quer que comece tudo de novo.
Em estado de amor, sua insatisfação é permanente – e a própria plenitude do ato sexual
(que só é realmente pleno no amor) é apenas a pausa que a apazigua em seu constante e antropofágico trabalho de viúva-negra, sempre a tecer sua teia de artimanhas com que melhor aprisionar o homem, para depois, lentamente, devorá-lo. E essa é ser a mais bela e trágica missão na natureza. Aparentemente mais fraca que o homem em sua disponibilidade e paciência, a mulher é realmente a longo prazo, o ser mais forte, devido a esse constante tecer de fios com que envolve o ser amado até vê-lo totalmente prisioneiro – quando, então, pode dar largas ao seu canibalismo. E para esse efeito, dispõe da mais poderosa das armas, milhões de vezes mais poderosa que qualquer arma nuclear: o sexo.
No homem, o sexo é centrífugo e intermitente. Na mulher, é centrípeta e permanente. Existe nela como conteúdo e continente; enquanto que no homem o sexo é apenas continente. Na mulher, o sexo acorda com ela, espera com ela, trabalha com ela e dorme com ela.
Ela o transporta como um semovente à sua carga, e ele se denuncia ao menor dos seus gestos, pois está ali, no centro do seu ser, para amarrar o homem, para escravizá-lo e fazê-lo , em última instância, cumprir o seu terrível destino de ser devorado.
E o mais terrível de tudo é que, se não for assim, não é como deveria ser, não é como manda a natureza.
Não há escapatória : só esse tipo de relação possui a dimensão da eternidade.
O resto é compromisso, conivência, encontro de solidões, desconversa diante da vida, sexo amigável, medo de enfrentar a fera.